Tive recentemente a felicidade de re-encontrar um antigo amigo dos tempos de PalmOS. Na época éramos entusiastas do PalmIII e achávamos que aquilo seria a plataforma que dominaria todo o mundo.
Era a época onde nós, recém formados, juntávamos nossos minguados salários para mandar buscar nos EUA essas pequenas maravilhas a preço de ouro. Ficávamos fascinados como aquelas coisinhas eram versáteis e imaginávmos como podiámos ter ficado tanto tempo sem um Palm em nossas vidas.
Tudo corria bem até 1999. Eu estva lá feliz com o meu PalmV até que vi as especificações do S.O. PocketPC 2000, da Microsoft. Era praticamente um S.O. "de verdade", da forma como eu, desenvolvedor de software, esperava de um sistema operacional. Aquilo fez meus olhos brilharem.
Falei isso com meu colega e ele falou que jamais a Microsoft iria ocupar o espaço do PalmOS, eles não tinha experiência no segmento, não tinham devices decentes, não tinham software. Não tinha nada.
Não sei se meu colega estava um pouco ofuscado pela nossa paixão pelo Palm, mas eu não via as coisas dessa maneira. Sim, o PocketPC não tinha nada disso que ele falou, mas ele tinha uma coisa que o PalmOS nunca teve. O PocketPC era uma plataforma superior. Um verdadeiro sistema operacional, da forma como conhecemos um, para PDA's. Isso me acendeu uma luz amarela sobre o futuro do PalmOS.
No ano seguinte, decidi ir contra todos os meus princípios e comprei um iPaq 3600, rodando o novíssimo PocketPC 2000. Era um tijolão na época de devices pequenos, como o meu PalmV. Eu mostrava para as pessoas e elas só comentavam: "que tijolo! Cadê o PalmV!". Mostrei para meu colega e ele me falou: "Você vai bater em mim com isso?!!". Nunca esqueci.
Aparentemente eu olhava para o tijolão (err, iPaq) com olhos diferentes. Onde alguns viam um grande PDA comedor de bateria eu via um sistema operacional concebido para o futuro, com recursos bastante eficientes de escalonamento de processos, alocação de memória e gerenciamento de drivers de dispositivo. Pela primeira vez eu vi que o futuro estaria destinado ao então PocketPC 2000.
Essa foi uma época muito estranha. A maioria dos meus amigos PDA-zeiros tinha Palm. 99.99% da "imprensa especializada" só viam o iPaq como um tijolão. A maioria dos sites, blogs, fórums e formadores de opinião só viam o tijolão. Será que eles não enxergavam que o que importava não era o tijolão mas o S.O.?
E olha que o PocketPC 2000 tinha problemas. E muitos. Mas menos que seu antecessor, o tosco Windows CE, do qual nós riámos em conversas no bar. Mas eu sabia que os problemas do PocketPC 2000 eram coisas simples de resolver, modificações feitas nas camadas superiores do software. Eu via que o problema do PalmOS era mais profundo, baseadas em soluções simplistas, e a empresa na época não via essa "simplicidade" do PalmOS como um problema. Foi um erro fatal.
A comunidade de PocketPC na época era mais ou menos como um gueto judeu durante a segunda guerra. Erámos esquecidos em nossas próprias lista de discussão e passávamos ao largo de calorosas discussões sobre plataformas que aconteciam nos fóruns em todo mundo, a maioria criada por usuários de PalmOS para criticar a escolha "estúpida" de adotar qualquer PDA que não rodasse o PalmOS. Preferiámos ficar calados, sempre tirando dúvidas de usuários PalmOS que analisavam as plataformas munidos de razão e não de paixão. Atraíamos esses usuários para o chamado "lado negro", que na realidade era a "luz". Eram tempos divertidos aqueles.
Menos meu colega. Não conseguia entrar na cabeça dele a importância do sistema operacional num PDA. Para ele, PDA era hardware e o sistema operacional uma coisa menor..um acessório do hardware, nada mais.
Era meados de 2002 e eu agora um feliz possuidor de um Casio E-200 rodando o novíssimo PocketPC 2002 e ele com um super PDA Sony NX80 rodando PalmOS. Não adiantava eu lhe mostrar os recursos do E-200,como o slot CF e o suporte a drivers permitia que eu tivesse placas de wi-fi,GPS,TV, etc.. Para ele nada interessava. O look-and-fell do NX80 era imbatível.
Por coisas do destino, nos separamos e ficamos alguns anos sem nos comunicar. Durante esse período vimos o mercado mudar de rumo.
A Microsoft lançou o Windows Mobile 2003, depois o Windows Mobile 2003SE e o atual Windows Mobile 5.0. Muitos devices passaram. A Palm se dividiu. A sony saiu do mercado de PDA's. A quantidade de fabricantes de devices com Windows Mobile cresceu.
Durante esse período, principalmente em 2004, houve uma verdadeira "debandada" de usuários PalmOS para o Windows Mobile, principalmente devido a redução de tamanho dos até então "tijolões" e a total inércia da então PalmSource na condução dO PalmOS.
Aparentemente, a equalização do tamanho dos devices fez saltar aos olhos dos usuários do PalmOS como sua plataforma era limitada. A comunidade PocketPC agora saia dos guetos e gritava em alto e bom som que seus devices tinham wi-fi, bluetooth, MP3, multitarefa, desde 2000! Os usuários de PalmOS ficavam atordoados se perguntando como não tinham visto isso antes! Como isso aconteceu? E agora, como eu me livro da porcaria do meu Palm T3??
Foi interessante observar como antigos defensores do PalmOS davam desculpas por estarem migrando de plataforma a seus "seguidores". Toda a "imprensa especializada" fica procurando em vão explicações para esse fenômeno. A comunidade de desenvolvedores não acreditavam que seus investimentos de longos anos estavam indo por água abaixo. Não acreditavam que poderia sequer existir um PDA Palm rodando Windows Mobile. Não acreditavam que o PalmOS não era o S.O. destinado ao futuro.
Então finalmente meu colega me deu ouvidos. Falei para ele que, qualquer que seja o mercado, é o software que importa. Não adianta tentar simplificar o software para ele se adequar a um hardware limitado. Faça um bom software e deixe que o hardware evolua até que o sustente de forma adequada. Você tem de passar pelos tijolões até chegar a um i-Mate Jam se quiser fazer algo destinado ao futuro.
Finalmente convenci meu colega e hoje ele é um feliz possuidor de um Dell X51v, rodando o Windows Mobile 5.0. E agora ele também vê como um bom S.O. pode fazer diferença num mercado onde aparentemente é o hardware que importa.
Mas não sem me dizer antes de ir embora que está de olho no "novo PalmOS" que deverá sair em 2007, baseado no Linux!... Eu também meu amigo. Eu também.
sábado, março 11, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário